A morte de Gwen Stacy

A luz que se apagou sobre o Hudson

SOCIEDADE

Por: Lennox Harper

Gwen Stacy era uma jovem que parecia ter sido desenhada para a leveza dos anos universitários. Linda, inteligente, um pouco imatura como tantos de sua idade, mas decidida quando o assunto era o próprio futuro — profissional, pessoal e, sobretudo, sentimental. Ao lado de Peter Parker, o fotógrafo freelancer do Clarim Diário, viveu um amor tão intenso quanto despretensioso, que ignorava qualquer barreira social. Certa vez confidenciou a ele, num daqueles raros momentos em que o mundo parece caber em um único banco de parque:
“Não tem lugar no mundo melhor do que esse parque. Nada é melhor do que ficar aqui com você.”

Mas as provações na vida de Gwen começaram cedo. Aos cinco anos, perdeu a mãe, Helen Stacy. E, anos depois, o destino voltou a ser cruel: durante um confronto aéreo entre Homem-Aranha e Doutor Octopus, seu pai — o Capitão de Polícia George Stacy — lançou-se para salvar uma criança prestes a ser soterrada por destroços. Recebeu todo o impacto. O herói aracnídeo ainda tentou resgatá-lo, mas os ferimentos eram graves demais. O bravo capitão morreu ali mesmo, deixando para trás a filha que tanto amava: Gwendoly Stacy.

Dias depois, a sorte parecia continuar de costas para a jovem. Ao visitar o apartamento de Peter Parker, Gwen foi sequestrada abruptamente pelo famigerado Duende Verde e levada ao topo de uma das torres da ponte George Washington. Do helicóptero do Jornal Nerd, pudemos observar quando o vilão depositou o corpo desacordado da jovem na torre, bradando impropérios ao perceber que o Homem-Aranha havia o seguido até ali. Armado com suas bombas-abóboras e montado em seu morcego a jato, mergulhou em uma espiral frenética de ataques. O herói aracnídeo, entre acrobacias e instinto, desviava de cada investida mortal.

Num momento de precisão cirúrgica, o Homem-Aranha lançou sua teia contra o vilão e o arrancou dos céus, aproximando-o o bastante para atingi-lo com um golpe certeiro no rosto. Foi tempo suficiente para que alcançasse a “donzela” desacordada. Mas o Duende Verde tinha outros planos. Num voo rasante, passou perto o bastante para separar os dois — e empurrou Gwen para a queda fatal, lançando-a em direção às águas frias do Hudson.

O que se seguiu ocorreu em frações de segundo, embora para quem assistia parecesse se estender dolorosamente. Em desespero, o Homem-Aranha disparou sua teia para tentar salvá-la. A linha grudou nas pernas da jovem, detendo sua queda e trazendo-a de volta ao alto. Mas, como confirmaria mais tarde o laudo dos legistas, a brusca interrupção do movimento criou um violento “efeito chicote”, fraturando o pescoço de Gwen no instante do resgate.

Aos 20 anos, Gwendoly Stacy perdeu a vida.

Mesmo com o barulho do helicóptero, o trânsito da ponte e a sinfonia metálica da cidade, ainda foi possível ouvir o lamento do Homem-Aranha — um misto de dor, desespero e promessa de vingança — ecoando sobre o rio, enquanto o Duende Verde se vangloriava do horror que causara.

O herói depositou o corpo já sem vida da jovem em um cais próximo e partiu atrás do assassino.
A notícia da morte de Gwen espalhou-se pela cidade com a rapidez de uma tragédia que não encontra lugar para se encaixar. Na universidade o impacto foi imediato. Professores interromperam aulas para comunicar o ocorrido; colegas, ainda incrédulos, sentaram-se nos degraus da entrada principal simplesmente para chorar juntos, tentando entender como alguém tão vibrante podia ter desaparecido de forma tão abrupta.

A direção da faculdade organizou uma pequena homenagem ainda naquela noite. Um círculo de estudantes acendeu velas no pátio, ladeado pelas árvores onde Gwen costumava estudar nas tardes de primavera. Houveram discursos curtos, hesitantes, porque ninguém parecia saber ao certo onde colocar tanta tristeza. Uma professora lembrou o brilho curioso que Gwen tinha nos olhos quando falava de genética e pesquisa; outro colega - Flash Tompson - comentou, com voz embargada, que Gwen “era a pessoa que transformava qualquer intervalo em um momento leve”. Foram deixados flores, cartões, recados escritos às pressas. A última vela apagou-se apenas ao amanhecer.

O velório, realizado dois dias depois, misturou silêncio e incredulidade. O caixão depositado no centro da pequena sala parecia destoar completamente da imagem que todos guardavam da jovem — viva, falante, cheia de planos. Vizinhos e antigos amigos da família Stacy se aproximavam de tempos em tempos, lembrando-se do capitão George Stacy e lamentando que pai e filha tivessem sido arrancados da vida em circunstâncias tão violentas. Era impossível não sentir, no ambiente, a sensação de algo duplamente injusto.

Tentei conversar com Peter Parker, que chegou ao local cabisbaixo, caminhando como quem carrega um mundo colapsado nos ombros. Ele não falava com ninguém; limitava-se a manter-se próximo ao caixão, às vezes com as mãos trêmulas, às vezes encarando um ponto qualquer no chão.
Quando me aproximei, ele ergueu o rosto por apenas um instante.

Peter… só algumas palavras sobre a Gwen?

Havia naquele olhar um esboço de resposta — ou talvez de um colapso — mas ele apenas negou com a cabeça, de forma firme e dolorosa, antes de se afastar para a área externa. Nenhum repórter insistiu depois disso. O silêncio dele dizia mais do que qualquer entrevista poderia.

Ao final da cerimônia, quando o caixão desceu à cova ao lado do pai, o vento pareceu soprar com um respeito estranho, quase solene. As flores balançaram como se prestassem continência. Uma amiga próxima, Mary Jane Watson, segurou a mão de outro estudante e sussurrou entre lágrimas:
“Ela tinha tanta vida… tanto ainda para viver.”

E era verdade. Gwen tinha um futuro inteiro diante de si — e não apenas um futuro comum, mas um daqueles cheios de possibilidades. Um futuro que agora pertence apenas às lembranças de quem a amou. A morte de Gwendoly Stacy não é apenas mais uma tragédia urbana em meio ao caos de nossos dias. É o lembrete cruel de como vidas jovens podem ser arrastadas para o abismo por forças que jamais deveriam compartilhar o mesmo céu que elas.

Resta-nos agora honrar sua memória não apenas com flores, discursos e velas, mas com a obstinação em exigir respostas. Que as autoridades encontrem o Duende Verde. Que a justiça alcance quem precisa ser alcançado. E que, em algum canto silencioso entre as águas do Hudson e o céu que a viu partir, Gwen finalmente encontre a paz que a cidade lhe negou.

Uma estrela a menos sobre Nova York — mas um brilho que jamais será apagado de quem, por um breve instante, teve a sorte de cruzar seu caminho.