A Morte do Superman
ACONTECIMENTOS


Os primeiros relatos surgiram do interior de Ohio — tímidos, fragmentados, quase desacreditados. No início pareciam apenas aquelas histórias que ganham forma na boca do povo, exageradas pelo medo e pela distância. Mas à medida que avançavam, trazidos por caminhoneiros, radioamadores e equipes de resgate, o país começou a perceber que não se tratava de histeria coletiva. Algo havia rompido o silêncio das profundezas. Não um animal, não uma arma, não um fenômeno natural. Um ser. Sem nome. Sem rosto. Apenas força — uma força bruta e irracional, sem propósito aparente além de destruir tudo o que encontrava pela frente.
O primeiro vilarejo que desapareceu do mapa foi descrito por uma equipe de resgate como “um cenário de pós-guerra sem guerra”. Casas desmoronadas, postes retorcidos, estradas arrancadas do asfalto. Árvores que não foram simplesmente derrubadas, mas lançadas a dezenas de metros de distância, como se fossem pedaços de madeira descartáveis. A trilha de devastação se estendia por quilômetros, lembrando o caminho torto de um furacão que, por algum motivo, aprendera a escolher seus alvos.
A criatura avançava. Imparável. A polícia local tentou bloqueios, patrulhas reforçadas, barricadas improvisadas com viaturas — todas esmagadas como brinquedos. Tropas estaduais vieram em seguida; tanques, caminhões blindados, helicópteros táticos. Nada. Os que sobreviviam aos primeiros minutos descreviam o ataque como “uma avalanche viva”, algo que simplesmente passava por cima de tudo sem sequer diminuir o ritmo.
Relatos posteriores confirmaram que membros da Liga da Justiça foram os primeiros a tentar uma contenção real. Mas a primeira baixa não foi humana — foi a nave da Liga, que teve parte da fuselagem perfurada por uma árvore gigantesca arremessada com força absurda. Guy Gardner, Caçador de Marte, Gladiador Dourado, Gelo, Fogo, Bloodwynd, Besouro Azul… todos tombaram um após o outro diante da criatura. Nem mesmo Máxima, a orgulhosa regente de Almerac, conseguiu resistir por muito tempo ao ataque bruto e silencioso daquele colosso. Não haviam gritos. Não havia discurso. Apenas pancadas que ecoavam como demolições.
O primeiro a cair em estado crítico foi Ted Kord, o Besouro Azul — encontrado desacordado e com múltiplas fraturas. Teve que ser enviado diretamente para um hospital próximo, onde os médicos lutaram para estabilizá-lo.
Entre os muitos testemunhos coletados naquela tarde, um dos mais fortes veio de um adolescente chamado Mitch. Ele estava à mesa com a família quando ouviu o primeiro estrondo. Não teve tempo de levantar-se da cadeira: a heroína Tora — Gelo — atravessou a parede da sala como um projétil humano, arremessada pela criatura. Pedaços da casa voaram como papel picado. O pânico tomou conta de todos, mas antes que o desespero se transformasse em tragédia, um clarão azul e vermelho surgiu sobre a rua. Segundo Mitch, foi como ver a esperança materializada. Superman chegou exatamente no segundo em que a casa parecia desabar sobre eles.
O alívio durou pouco. O monstro avançou, e um único golpe lançou o Homem de Aço através da residência, abrindo um corredor de escombros que atravessava do jardim aos fundos da propriedade. O impacto sacudiu o chão. A Liga se reagrupara rapidamente — Gardner mancando, Máxima furiosa, Gladiador respirando com dificuldade — e todos se lançaram novamente contra a criatura.
Mitch contou que viu quatro membros da Liga dispararem ataques simultâneos contra o gigante, com o Superman reforçando a ofensiva. A explosão de energia iluminou a rua inteira, mas a criatura permaneceu de pé. E pior — avançou. Rápida, muito mais rápida do que qualquer um imaginava possível para algo daquele tamanho. O adolescente recorda apenas da frase desesperada do Gladiador Dourado antes de ser nocauteado: “O Apocalypse vem vindo!” Logo após isso, o monstro saltou para longe com um impulso que destruiu metade do quarteirão. Superman o seguiu imediatamente, voando atrás como um míssil humano.
Poucos quilômetros adiante, o Condado de Kirby se viu transformado em arena. Moradores assistiam, impotentes, enquanto helicópteros militares eram derrubados como moscas, veículos eram esmagados, prédios eram atravessados como se fossem portas frágeis. Superman lutava em desvantagem constante, alternando ataques e salvamentos, tentando impedir que civis e soldados fossem atingidos pelos destroços.
Fontes do Projeto Cadmus confirmaram que Kal-El e a criatura — agora oficialmente batizada de Apocalypse — se enfrentaram dentro de uma estrutura experimental conhecida como Habitat. O local, uma gigantesca construção de madeira viva, foi reduzido a fragmentos em minutos. O Guardião, responsável pela segurança do Projeto, se uniu ao combate, mas nem mesmo ele conseguiu evitar o salto monumental que levou Apocalypse a abandonar o estado de Nova Iorque em direção ao sul-sudeste. Seu destino era claro. Metropolis.
Quando a criatura pousou — ou se chocou — no coração da cidade, o impacto foi sentido a quilômetros. A luta ganhou uma escala simplesmente indescritível. As ruas pareciam tremer. A cada minuto surgia uma nova nuvem de poeira. A trilha de destruição rapidamente ultrapassou o que qualquer equipe de emergência poderia controlar. E então veio a explosão que devastou Newtown. Até agora, autoridades ainda tentam medir a extensão do estrago.
Supergirl chegou como reforço, tentando ganhar tempo enquanto Superman ajudava civis feridos. Juntos, enfrentaram a fúria da criatura, mas Apocalypse parecia se fortalecer com cada confronto. Era como se absorvesse a violência ao seu redor. Dan Turpin e a Unidade de Crimes Especiais chegaram com apoio de Cadmus. O ataque conjunto — calculado, concentrado, poderoso — atingiu o monstro diretamente. E não fez diferença alguma.
A sensação de impotência começou a se espalhar entre civis e autoridades. A criatura que cruzara o país destruindo tudo parecia invencível. Os maiores heróis da Terra estavam caídos, feridos ou inconscientes. Restava apenas um. E ele continuava de pé. Superman lutava sozinho. Sangrando. Ofegante. Mas firme. Cada soco que desferia era respondido com força redobrada pela criatura. Em certo momento, Apocalypse ergueu o herói pelos ombros e o lançou violentamente contra um helicóptero de imprensa, que perdeu o controle e caiu em chamas segundos depois. O impacto fez a cidade inteira prender a respiração.
Testemunhas relataram que o monstro utilizou partes de seu próprio corpo — protuberâncias ósseas afiadíssimas — para cortar e ferir Superman. Mas Kal-El respondeu usando as mesmas extensões a seu favor, mergulhando os pés nelas para golpear com mais precisão e força. Foi a primeira vez que se viu Apocalypse reagir com dor. Um detalhe pequeno, mas que reacendeu a esperança.
A luta já ultrapassava horas. Os vidros de prédios distantes estilhaçavam com a onda de choque dos golpes. O chão vibrava. As fachadas caíam como se fossem cartões de visita desintegrando. Eu próprio busquei abrigo atrás de um amontoado de destroços que antes fora um edifício residencial. O calor, a poeira, o cheiro de fumaça e concreto queimado deixavam tudo enevoado. Eu tentava registrar a cena, mas era difícil manter a concentração ao ver o Superman sendo arremessado como um boneco — apenas para segundos depois, se levantar novamente, tropeçando, sangrando, mas avançando. Ele nunca recuou.
A batalha os conduziu até o prédio do Planeta Diário. Quando o corpo do Homem de Aço atravessou parte da fachada e caiu pesadamente sobre a rua, o grito coletivo de Metropolis ecoou como sirene. Vi Lois Lane correr em direção a ele — ignorando fumaça, destroços e o perigo iminente — com uma expressão de desespero que eu jamais esquecerei.
Os golpes ficaram mais lentos. Não por falta de força, mas por exaustão pura. Os dois gigantes mal conseguiam permanecer de pé. E então, como dois pugilistas que ultrapassaram todos os limites possíveis, colidiram num ataque final simultâneo. Um estrondo. E silêncio. O silêncio mais pesado que já ouvi.
Ali, diante de todos, estava o homem que salvou o mundo incontáveis vezes. O símbolo de esperança. O herói que nunca quebrou sua palavra. O amigo de muitos, o ídolo de tantos, o guardião de todos nós. Deitado. Imóvel. Apocalypse, finalmente derrotado, jazia ao lado — um titã vencido pela única pessoa que poderia impedi-lo.
Quando a poeira assentou, lá estava ele. Superman. O uniforme rasgado. O corpo inerte, abraçado pela mulher que o apresentou ao mundo. Chorando. As lágrimas de Lois Lane eram as nossas também. Ela pedia que ele ficasse.
Todos que tiveram suas vidas tocadas, direta ou indiretamente, por aquele símbolo de força e compaixão… todos sentiram a mesma perda. O vento soprava fraco, levantando apenas o estandarte do “S”, rompido, pendurado nos escombros como um aviso e um luto.
Alguns choravam abertamente. Outros apenas olhavam, incapazes de entender o que havia acontecido. Eu mesmo demorei minutos para conseguir falar qualquer coisa. Mas precisava registrar. Era meu dever, por mais doloroso que fosse. Minha voz tremia, mas ainda assim eu disse em voz alta o que ninguém ali tinha coragem de falar: “O Super-Homem está morto.”


